segunda-feira, 30 de abril de 2018



Sabe o que bem irônico? Eu conto para vocês! É que nessa vida TODOS têm problemas. Ricos ou pobres: problemas. Brancos, negros, amarelos, pardos: problemas. Jovens ou velhos: problemas. Mas quando olho para o lado, são verdadeiramente poucas as pessoas que podem dizer algo do tipo: "eu já pesei 153 quilos"! Ainda mais se isso vem de uma mulher. 

Eu sei que é uma verdadeira "epidemia" por todo o mundo, já que passou a ser considerada uma doença, mas andando pelas ruas, o sobrepeso impera, mas não vejo quase a obesidade mórbida. Talvez seja porque a maioria esteja como eu mesma passei esses últimos anos, em modo inércia, trancafiada dentro de casa, preferindo as tortas com muito doce de leite que estouram o cartão e chegam pelo delivery, ao invés de lidar com PESSOAS. Mas voltando às ruas, eu acabo pensando que sou exatamente a representante dela, da obesidade mórbida, caso alguém a esteja procurando, como eu mesma faço, sempre na tentativa de achar alguém igual ou maior do que eu, para me safar de ser a única "sem vergonha", que ousou crescer tanto, a ponto de estar matando lentamente a si mesma de forma tão descarada. 

Eu larguei o emprego para cuidar da saúde. Era um sub-emprego, confesso, mas parada na vida, só engordei mais. Eu gastei rios de dinheiro com essa indústria poderosa, que é a do emagrecimento, mas só consegui sentir mais ódio de cada profissional gordofóbico pelo qual tive o azar de encontrar pelo caminho. E é claro que eu encontrei uma gama de boa gente querendo trabalhar, mas querendo também me fazer de rato de laboratório com seus remédios novos ainda a serem testados ou suas cirurgias descabidas. 

Eu sei. Fui a única que perdi. Perdi anos de vida e se assim me mantiver, não durarei muito. O que busco neste instante escrevendo esse desabafo é: MOTIVAÇÃO. Sendo que são poucos os seres humanos que me causam graça. Poucos. Muito poucos. Eu sempre fui uma dessas pessoas boazinhas e tímidas na maior parte do tempo, fazendo tudo o que os outros queriam, balançando a cabeça obedientemente e morrendo de medo de entrar em alguma fria inocentemente. Hoje, sou uma pessoa bem exausta. Dos chefes que nos tiram a autoestima. Da família que nos suga a alma. Dos amigos que preferem duelar a conversar harmoniosamente com o real intuito de ouvir a resposta do famoso "como você está". Exausta de ter que ser: forte, independente, mãe, magra, fitness, religiosa, antenada, cozinheira, light, diet, viajada, sexy, boa vizinha, boa esposa, boa filha, boa para a família que do nada entrou em sua vida - sendo que não gosto nem da minha família e whatever... 

Eu quero ser eu, sem precisar ser mais nada para ninguém. A obesidade me protege de ficar nessa roda vida funcionando no botão automático, mas tem muitas outras experiências pelas quais quero e tenho o direito de passar bem ali fora da casinha. E saber cuidar de mim em meio a tudo isso, fará de mim uma das mais estilosas sobreviventes neste mundo tão incoerente. 

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